Resoluções de Ano-Novo
Como costuma acontecer ao longo dos séculos -para não dizer milênios-, 14 milhões de judeus, em todo o mundo, começam hoje a celebrar o Rosh Hashaná, o Ano-Novo judaico, tendo diante de si questões fundamentais de ordem individual e coletiva. Entretanto é possível que a questão mais frequente e premente seja, hoje em dia, como responder ao recrudescimento em escala mundial do antissemitismo e de sua versão mais desavergonhada pós-Holocausto, o antissionismo. Essa questão judaica é, na verdade, global. Todos estamos assustados com o mundo novo de “haters” e “trolls” que promovem campanhas de difamação cada vez mais eficientes e violentas. Infelizmente, isso não é novidade para os judeus. As ameaças e infâmias lançadas contra as comunidades judaicas de todo o mundo e contra Israel crescem e se multiplicam, embaladas por organizações do mundo digital. E, como se constata ao longo da história, os ataques contra judeus são geralmente prenúncios de ataques sistêmicos. Foi assim na Alemanha nazista e é assim agora com o terrorismo islâmico, que repete em cidades europeias o que pratica há tempos em Israel. Atropelamentos e esfaqueamentos iniciados em Jerusalém repetem-se em Nice, Paris, Londres Por tudo isso, as comunidades podem e devem contribuir para a urgente tarefa de combater a propagação do ódio e da intolerância -e o extremismo que os explora. As redes sociais e as novas tecnologias são pontos focais de recrutamento e doutrinação, promovendo não somente o ódio mas também técnicas de ação violenta. Extremistas brasileiros de todo tipo estão conectados com facções internacionais com o intuito de compartilhar estratégias, experiências e propaganda. As fileiras que marcharam em Charlottesville (EUA) empunhando tochas e entoando cânticos contra judeus e outras minorias atualizam fielmente as imagens dos comícios da Alemanha nazista. Mas o choque e o pavor diante daquelas cenas serviram de chamado à ação. Gigantes de tecnologia começaram, finalmente, a tomar providências. O Airbnb cancelou contas de extremistas que usaram seus serviços para se hospedarem na cidade. O Google, o PayPal e o GoDaddy barraram sites racistas. O Facebook está finalmente endurecendo sua conduta, assim como serviços eletrônicos de coleta de recursos. É pouco, mas é um começo. E antes tarde do que nunca. Por aqui, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) inicia um movimento para que essas mesmas empresas tomem atitudes semelhantes por aqui. O Brasil dispõe de uma legislação adequada para combater a propagação do ódio e do preconceito. Não podemos nos omitir. Diante do mal, a pior atitude das pessoas de bem é nada fazer. Um dos significados mais relevantes do Rosh Hashaná é o de que a cada novo ano celebramos, além da criação da vida, aquilo que de modo simultâneo foi atribuído ao ser humano: o livre arbítrio. Se anualmente renovamos a licença para decidir o que fazer doravante de nossas vidas, parece claro que entre as causas mais urgentes está o combate à intolerância -bem como a promoção de seu oposto, o entendimento. A sociedade brasileira pode contar com sua comunidade judaica nessa dura tarefa. Sabemos bem aonde a propagação do ódio e do preconceito pode nos levar. E estamos dispostos a agir. Façamos deste próximo ano de 5778 do calendário judaico um período mais feliz. Shaná Tová a todos! FERNANDO LOTTENBERG, advogado, é presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib) PARTICIPAÇÃO Para colaborar, basta enviar e-mail para [email protected] Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamentos contemporâneo.