Rocinha cercada

Há mais de uma semana só faz complicar-se a situação da comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. Nem mesmo o cerco efetuado por tropas do Exército nas saídas do morro foi capaz de estancar as escaramuças entre quadrilhas. Saldo divulgado de oito dias da operação militar e policial: seis mortos, 29 mandados de prisão expedidos, seis pistolas, 15 granadas e 14 fuzis apreendidos. Nesta segunda-feira (25), a favela de 70 mil habitantes amanheceu sem disparos, mas também sem aulas —medida de prudência óbvia, pois ninguém sabe dizer se e quando os tiroteios recomeçarão. São nove estabelecimentos e mais de 3.000 alunos sem ensino. E não foi só no morro: também no asfalto, como se diz no Rio, colégios particulares da Gávea, bairro vizinho, cancelaram atividades. Os boatos se multiplicam, artérias cruciais são bloqueadas, e o pânico se espalha pela cidade. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), após arruinar o Estado na companhia do antecessor e correligionário Sérgio Cabral Filho, pediu socorro ao Exército. No início de agosto a Força já se posicionara nas ruas, afastando-se após desentendimentos com a Secretaria de Segurança Pública fluminense. Em realidade, o poder público se mostra impotente diante da desenvoltura das facções. Elas já vão retomando todos os territórios que haviam perdido com as de início bem-sucedidas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A presença constante de agentes da lei nas comunidades constitui só o início da retomada dessas áreas pelo Estado, porém. Sem um esforço continuado de inteligência policial, para localizar arsenais de criminosos e obstruir rotas de armas e drogas, essa política está fadada ao fracasso. Violência e corrupção na corporação policial permaneceram intocadas pelas UPPs, que perderam prestígio e eficácia. Some-se a isso o sucateamento de todos os serviços estaduais pelo descalabro financeiro peemedebista, aí incluído o aparelho de segurança pública. Chamar o Exército se tornou a saída de praxe no Rio, mas tal intervenção quando muito pode servir de apoio pontual, com objetivo bem delimitado (como este cerco na Rocinha), pois não é capaz de substituir a ação da polícia. As Forças Armadas não têm vocação para manter a ordem pública. Prolongar sua presença no Estado eleva os riscos de excessos ou, até, de cooptação de militares pelo tráfico e pela corrupção. A Força Nacional de Segurança, desde que devidamente equipada, seria mais talhada para a tarefa. [email protected]