São Paulo vive rotina de ‘triameaçado’ de cair para Série B

Clube mais vencedor entre todos do país, embora o mais jovem dos grandes, o São Paulo vê-se novamente às voltas com a ameaça do rebaixamento, em situação mais dramática que as vividas em 2013 e 2016. De tricampeão brasileiro seguido em 2006, 2007 e 2008, seis vezes campeão ao lado de Flamengo e Corinthians, a “triameaçado” de cair para Série B. Difícil precisar quando começou a decadência. Há quem diga que foi em 2009, quando deixou de amealhar o aluguel do Morumbi pago pelo Corinthians, depois de uma briga entre os então presidentes dos dois clubes que terminou com a retaliação alvinegra de nunca mais mandar jogos no estádio tricolor. Pelo menos por cinco anos, até que fosse inaugurada a Arena Corinthians, o São Paulo perdeu a arrecadação proporcionada pelos clássicos que o adversário costumava fazer em seu campo ao trocá-lo pelo Pacaembu. Dinheiro faz falta, mas a explicação é simplória e revela mais um desejo corintiano do que, provavelmente, a realidade. Pelo sim, pelo não, desde então o São Paulo não ganha um título relevante, nem mesmo o Estadual, há 12 anos na fila, como está há nove no Brasileiro. Para quem é tricampeão da Libertadores e, na contagem nacional, Mundial, é um jejum espantoso, minimizado pela Copa Sul-Americana em 2012, mas numa decisão que nem teve segundo tempo e contra o pequeno Tigre argentino, após 0 a 0 em Buenos Aires e 2 a 0 em São Paulo, com recusa dos visitantes em voltar ao campo depois de brigarem com a PM. E a Copa Sul-Americana se não é mais a Série B da Libertadores (é, digamos, a Série A-), cinco anos atrás era. O São Paulo só não perdeu nos últimos anos o mais importante: a torcida. Porque perdeu em gestão ao rasgar seu estatuto e dar uma segunda reeleição a Juvenal Juvêncio e depois eleger como seu sucessor o advogado artífice da virada de mesa, Carlos Miguel Aidar, que teve de se demitir em meio à acusação de corrupção -no que, diga-se, deu um exemplo ao Brasil, onde sobram denúncias e faltam renúncias. De lá para cá tem sido o caos, difícil dizer se equivalente à “coriantinização” ou à “palmeirização” do São Paulo. Seja uma coisa, seja a outra, sejam ambas, é inescapável a sensação de que no Morumbi todos brigam e ninguém tem razão. O elenco não é bom, muda mais que ministro da Cultura em Brasília, mas não é inferior ao de uma porção de clubes na sua frente na tábua de classificação. Em matéria de técnicos já se experimentou de todos os tipos e gostos: argentino, colombiano, ídolo, experiente, se nenhum Pep Guardiola, também ninguém desqualificado. Clube grande não cai é o que apenas os torcedores do Cruzeiro, Flamengo e Santos, além dos são-paulinos, gostam de repetir, embora todos já tenham corrido o risco que levou oito de seus iguais, alguns mais que uma vez, outros mais de duas, ao fundo do poço. Melhor será atentar para a teoria da camisa pesada, que vira âncora e puxa para baixo na areia movediça, criada pelo jornalista Victor Birner. Porque clube grande cai, às vezes por acidente, mas, muitas delas, por não perceber os sinais. Como o São Paulo pela terceira vez em cinco anos.