Temer ganha desconto generoso em fatura para barrar nova denúncia
Continuam lá as imagens do assessor presidencial correndo com uma mala de R$ 500 mil, o encontro secreto tarde da noite no Palácio do Jaburu e a gravação de uma conversa nada republicana com um criminoso confesso, mas as suspeitas de armação na delação da JBS reduziram substancialmente os custos de sobrevivência para Michel Temer. Quando abrir o balcão de negociações para barrar uma possível nova denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), o presidente pedirá aos deputados de sua base aliada um desconto generoso. Mais do que isso, poderá até renegociar as dívidas que já adquiriu com os parlamentares que ajudaram a livrar seu pescoço no início de agosto, quando foi acusado de corrupção passiva. Desde o início da crise provocada pela delação da JBS, a permanência de Temer no cargo é afiançada quase exclusivamente pelo Congresso. De carona com a espada de Rodrigo Janot, os parlamentares ameaçavam derrubar o presidente caso não tivessem suas demandas atendidas. Na mira da JBS Essa intimidação perde força com os indícios de que os relatos de Joesley Batista podem ter sido produzidos em uma conspiração com um auxiliar de Janot. Também acusados, os deputados dificilmente perderão a oportunidade de impor uma derrota ao delator e ao procurador-geral quando a nova denúncia chegar ao plenário da Câmara. Agora, segundo a lógica do Palácio do Planalto, por que o presidente deveria pagar caro, liberar bilhões em emendas e redistribuir cargos em seu governo para enterrar um processo baseado em narrativas e provas que estão, elas mesmas, sob investigação? Antes do anúncio de que a delação da JBS poderia ser revista, auxiliares do presidente previam uma batalha morna na votação de uma nova denúncia da PGR, com um placar semelhante ao obtido no embate anterior -263 votos a favor do presidente e 227 contra. A expectativa agora é de que, com pouco esforço, o governo ganhe terreno timidamente entre seus defensores, e que os grupos que votaram pelo afastamento do presidente do cargo percam entusiasmo, reduzindo as chances de uma mobilização em massa. Os buracos abertos na delação devolveram ao presidente parte de seu capital político, mas o fôlego recuperado deve ser limitado. Nem os integrantes mais otimistas do Planalto esperam um surto de fidelidade e de defesa enfática de Temer no Congresso. Alguns auxiliares presidenciais chegaram a atestar, nas primeiras horas da noite de segunda-feira (4), que o governo voltaria a trabalhar em condições pré-JBS, com perspectiva até de retomar as articulações para aprovar a reforma da Previdência. A animação não resistiu à constatação óbvia de que, mesmo antes da delação, o presidente já enfrentava dificuldades nesse debate e ostentava uma taxa de aprovação de menos de 10%. A vitória de Temer, portanto, parece ficar circunscrita ao reforço de seu discurso político para continuar no poder até o fim de 2018. Desde que surgiram as acusações de Joesley, o presidente elegeu o dono da JBS e o procurador-geral da República como alvos, atacando principalmente a farta lista de benefícios concedidos ao delator. A revelação de omissões de provas e a decisão de rever esse acordo se encaixaram perfeitamente com o discurso de Temer. Mas o maior triunfo do presidente nesse episódio provém de uma questão quase pessoal: o enfraquecimento de Janot. Temer contava os dias em seu calendário para que o procurador-geral deixasse o cargo, em 17 de setembro, mas agora o governo já decreta o fim de sua era à frente da PGR. Ainda é cedo para dizer como Raquel Dodge conduzirá a instituição, mas a expectativa no Planalto é de tempos mais calmos daqui por diante. – VAIVÉM DA DELAÇÃO Como foi fechado acordo da J&F e o que pode mudar 7 delatores 1.829 políticos citados Data do acordo 3.mai.2017 Período das irregularidades 2002 a 2017 Consequências políticas > Instaurou-se a maior crise política da gestão Temer > Rodrigo Rocha Loures e Aécio Neves foram afastados do Congresso ACORDO SOB SUSPEITA Investigação pedida pela PGR nesta segunda-feira (4) Origem Gravação de cerca de quatro horas de conversa entre os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud Suspeitas > Indícios de crimes cometidos por agentes da PGR e do STF (Supremo Tribunal Federal) > Indícios de omissão de informações PRÓXIMOS PASSOS > Os delatores Joesley, Saud e Francisco de Assis e o advogado Marcelo Miller terão que depor até sexta-feira (8) para esclarecer o áudio > O escritório Trench, Rossi e Watanabe terá que informar em cinco dias as causas da demissão de Miller e da advogada Esther Flesch, responsável por sua contratação CONSEQUÊNCIAS > Se ficar provada qualquer ilicitude, o acordo poderá ser revisto e até rescindido > A eventual rescisão da delação não invalida as provas, segundo Janot