Trump e os democratas

Os líderes do Partido Democrata no Congresso americano, Chuck Schumer (Senado) e Nancy Pelosi (Câmara), divulgaram um acordo com o presidente Donald Trump em torno da política para os imigrantes que chegaram crianças aos Estados Unidos e tiveram proteção extinta pelo republicano. O anúncio ocorreu depois de um jantar na Casa Branca, nesta quarta (13), durante o qual serviu-se comida chinesa e se discutiram possíveis pactos entre os dois lados. Schumer e Pelosi estariam dispostos, por exemplo, a apoiar um endurecimento no controle das fronteiras —desde que não incluísse, claro, o malfadado muro nos limites com o México. A estratégia de buscar os democratas para acertos pontuais já havia sido aventada por Trump mais de uma vez, diante das dificuldades que enfrentou em seu próprio partido para encaminhar projetos considerados prioritários, como a revogação e substituição do Obamacare, a lei de saúde sancionada pelo antecessor Barack Obama. Acordos bipartidários nos EUA não são incomuns, embora a polarização política dos últimos anos os tenha tornado mais rarefeitos. Recentemente, no dia 6 deste mês, o presidente obteve o apoio de Schumer e Pelosi para prolongar a ampliação do teto da dívida pública até dezembro ­—evitando, com isso, uma paralisação do governo. Sob pressão de parlamentares republicanos e de sua base eleitoral, Trump chegou a negar que estivesse negociando um entendimento, mas depois admitiu que estava a debater “um plano para o Daca” com a agremiação rival. O Daca (Deferred Action for Childhood Arrivals) é um programa da gestão anterior que legalizou a situação de cerca de 800 mil jovens imigrantes (a maioria mexicanos) —também chamados de “dreamers” (sonhadores). Após revogar a medida, no dia 5, o republicano foi acusado de “crueldade” por Obama e provocou, naturalmente, uma onda de apreensão entre os imigrantes. Trump, que ao longo de sua trajetória já havia se aliado aos democratas, nunca foi um homem de partido; enfrentou e enfrenta, como se sabe, resistências do “establishment” de sua sigla. Personalista e não raro errático, o líder americano parece querer demonstrar sua capacidade de dialogar, em mais um momento difícil de sua gestão —tanto por razões internas como externas, caso das ameaças norte-coreanas. [email protected]