Trump eleva retórica contra Kim, e risco de desastre está na reação

Se já parece ruim o suficiente o presidente da principal democracia do mundo ameaçar “destruir totalmente” um outro país no pódio de mármore verde das Nações Unidas, a situação ganha em dramaticidade quando os adversários em questão são Donald Trump e Kim Jong-un. Trump vem recorrendo constantemente à retórica do “cachorro louco”, adotada por Richard Nixon nos anos 70 contra o Vietnã. Mas o então chefe republicano da Casa Branca nunca fez a ameaça de usar armas atômicas, e “destruir totalmente” um país sugere isso, no principal foro internacional da diplomacia. Nesse sentido, mesmo sendo uma típica bravata de Trump, é algo sem precedentes. Não menos porque há 1.800 ogivas nucleares de pronto uso à disposição do presidente, que tem sua habilidade para lidar com isso questionada abertamente. É possível argumentar solidamente que a ONU é mais uma obsolescência num mundo de pragmáticos. Se é óbvio que uma agressão norte-coreana será respondida no mínimo com uma ação proporcional dos EUA, o tom belicista de Trump fez lembrar os momentos mais ásperos dos discursos do soviético Nikita Krushchov. Coisa de líder autoritário. Enquanto for falação, tudo bem. Mas o perigo aqui é que, para cada uma dessas bravatas, Kim respondeu com um passo além em seu programa de mísseis e armas nucleares. Uma hora ele poderá ultrapassar ainda mais as linhas que já violou, e provocar uma reação militar de verdade, com consequências que vão de ruins a tenebrosas. A península coreana está cercada de forças ofensivas, e Pyongyang vê na destruição de seu regime a razão de ser dessa ameaça. Teoricamente, num mundo de regras conhecidas, ele usaria seu programa de armas como moeda de troca por sua sobrevivência. Mas um míssil que caia no lugar errado, um navio que acabe afundado ou a comprovação cabal de que já poderá explodir um artefato nuclear atirado contra os EUA, qualquer evento desses está no rol das possibilidades de desastre. Kim pode simplesmente deter sua escalada militar, numa negociação que forçosamente envolve a China e talvez a Rússia.. Não foi o que aconteceu até aqui, contudo.