Valentino faz leitura irônica e fantasiosa da euforia francesa

VALENTINO (muito bom) * Fora do teto de vidro da moda francesa, a Valentino, grife romana que fez de Paris seu lar, assiste à euforia local com um tom de ironia que só uma mão experiente é capaz de imprimir sem caricaturas. A de Pierpaolo Piccioli está mais afiada do que nunca. Guardião do luxo de tapete vermelho do estilista Valentino Garavani, o designer concebeu uma coleção aristocrática, pensada como uma “fantasia”, uma viagem à Lua, um lugar de onde se pode olhar a Terra de “ângulos diferentes”. Dentro de uma escola tradicional de Paris, frequentada por uma elite antiga e na qual estudaram do ex-presidente Jean Jacques Chirac à dupla Daft Punk, a grife mostrou longos repletos de bordados e cores mas também uma estética futurista de cartela neutra, com brilhos etéreos como uma paisagem lunar. Capas de plásticos com lantejoulas prateadas cobriam conjuntos de calça e blusão funcionais, embebidos na aura da marca, mas próximos ao estilo francês de se vestir. Jaquetas esportivas sobrepuseram conjuntos luxuosos de camiseta e bermuda, um contraste entre a roupa de todo dia e a de noite. A mesma ideia foi ampliada nos “trench coats” cheios de bolsos sobre vestidinhos quase normais, não fossem as aplicações de brilho. Decotes cavados eram superpostos como adornos à parte da frente de minivestidos de festa e de uma blusa, combinada com saia bordada. Transformar o ordinário em extraordinário foi o mantra de Piccioli em seu exercício de fantasiar sobre as roupas comuns, que pode ser lido como referência ao minimalismo relaxado francês. Olhando para o movimento de felicidade da temporada, ele embalou o apelo da marca nessa doçura fantástica, às vezes preenchida com poás coloridos, tão pueris quanto desenhos de crianças em idade escolar.